segunda-feira, 17 de setembro de 2012

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRESENÇA DO EXÉRCITO NA ILHA DO FOGO



1-A ILHA NÃO ERA UM LOCAL PERIGOSO OU MARGINALIZADO. Se assim fosse teríamos altos índices de violência, que geralmente está associada à tríade: consumo de drogas, prostituição e tráfico de drogas (pelo menos esse é o discurso oficial dos especialistas e autoridades policiais). Não há registro policial dos últimos trinta e seis meses de agressão física, arruaças, homicídio e tentativa de homicídio na ilha do fogo, ao contrário de outras áreas de grande circulação em Juazeiro e Petrolina, e que se tem a notícia da existência da tríade acima mencionada.
2-NÃO HÁ JUSTIFICATIVA LEGAL PARA UMA “INVASÃO” DO EXÉRCITO. Ao contrário do que se diz, não houve ocupação, a ilha não estava desocupada. Existia uma colônia de pescadores (que foi obrigada a sair) que não vivia da prostituição ou das drogas. São homens, pais de famílias que tiram o sustento das águas do velho Chico, e estavam instalados na ilha do fogo há vários anos. A ilha não estava desocupada, porque todos os dias, homens, mulheres e crianças a frequentavam para a prática de esporte e lazer. Para muitos a ilha era a sua única forma de lazer gratuita e familiar.

3-NÃO HÁ DECISÃO JUDICIAL CONCEDENDO A ILHA AO EXÉRCITO. Foi a Superintendência de Patrimônio da União, em Recife, ligada à Secretaria de Patrimônio da União – SPU, órgão subordinado ao Ministério do Planejamento, que através de um ato administrativo concedeu a posse da ilha ao Exército, portanto, tudo tramitou ADMINISTRATIVAMENTE. Coube a Justiça Federal em Petrolina a decisão de DESAPROPRIAÇÃO do comerciante Assis, que tinha um bar na ilha. O dito cidadão através de ato de concessão da prefeitura de Juazeiro, concedido há cerca de vinte anos atrás, passou a administrar a ilha do fogo e a explorá-la comercialmente.
4-A CONSTRUÇÃO DO MUSEU DO RIBEIRINHO. Para as cidades de Juazeiro e Petrolina, que vivem e são ou que são graças ao rio são Francisco, não teria algo mais gratificante para todos do que o registro da memória e o louvor àqueles que com o seu braço forte e resistência fizeram da navegação à fonte de riqueza das duas cidades. E, sobretudo, teríamos um local de referência turística para a região. A UNIVASF tem buscado junto a CHESF apoio para a construção do Museu do Memorial do Ribeirinho, a ser construído no velho casarão da ilha do fogo. A UNIVASF não abre mão do projeto ser executado na ilha. Trocaríamos um Museu por um Centro de Treinamento Militar?
5-A FALÁCIA DO FIM DAS DROGAS E DA PROSTITUIÇÃO NA REGIÃO. Engana-se ou mente autoridade que afirmar que a presença do Exército na ilha do fogo põe fim ao consumo e ao aliciamento de jovens para o consumo de drogas. Muitíssimo pelo contrário, estudos comprovam que ausência de lazer, esporte e entretenimento podem levar os jovens ao consumo de drogas. Numa região tão carente de lazer, de locais para prática esportiva e entretenimento saudável, como ficam os jovens que tinham a ilha como local de lazer e para a prática de esportes?



6-O NASCIMENTO DE UM GRANDE PROBLEMA SOCIAL PARA A REGIÃO. A luta dos movimentos sociais para o acesso livre da população e pela construção do Memorial do Ribeirinho na ilha do fogo deveria ser dos gestores públicos das duas cidades, são eles que a partir de então irão administrar a demanda de lazer, entretenimento e esporte que a ilha supria sem nenhuma intervenção ou investimento do dinheiro público. Haverá saturação dos locais de lazer já existentes, aumentará a degradação dos espaços públicos, aumentará a demanda nas áreas de saúde e segurança pública com as grandes aglomerações em locais sem a mínima infraestrutura e perderemos a maior referência turística da cidade.
7-A CULTURA E O FOCLORE REGIONAL DE LUTO. A principal lenda do Vale do São Francisco diz que no serrote da Ilha do Fogo vive presa por três fios do cabelo de Nossa Senhora das Grotas, uma grande serpente capaz de destruir as cidades de Petrolina/PE e Juazeiro/BA, a dita serpente já quebrará dois dos três fios. Os poetas, cantadores, repentistas, músicos, compositores (Caetano Veloso, por exemplo) e artistas buscavam inspiração na beleza e na magia da ilha. Para todo o Vale a ilha é um patrimônio cultural, imaterial e turístico que traduz a essência do sertanejo e do ribeirinho. Não haverá mais o que contar ou recontar das lendas e tradições que envolvem a ilha, pois a inspiração e a magia, agora se traduzem numa cenário de armamento pesado e clima de guerra.
Por fim, resta rezar para que a serpente que está presa no serrote da ilha do fogo não quebre o terceiro fio do cabelo, para não causar mais destruição do que uma intervenção militar em tempos de paz.

COLETIVO DE LUTA DA ILHA DO FOGO

Por: Enio Silva da Costa

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